domingo, 14 de novembro de 2010

ANIVERSARIO DA CARAVANA DO CORDEL


Numa festa muito alegre, a Caravana do Cordel completou dois anos e comemorou na Biblioteca do Memorial da América Latina. Repleta de atrações, o evento contou com a presença de vários poetas componentes do grupo. A festa foi recheada de música, homenagens, documentário da Caravana. Enfim foi um evento onde pudemos ampliar o contato ainda maior com o público apreciador do cordel, este que também é parte integrante da Caravana. Obrigado a todos que compareceram a este primoroso evento.


HISTÓRICO DA CARAVANA DO CORDEL

A existência do cordel remonta mais de um século de história, que começou a ser construída por Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima, Francisco das Chagas Batista e outros poetas que abraçaram esse estilo literário, que desde o início encantou diversas pessoas e atravessou gerações até chegar os nossos dias.

Nascida no chão seco e árido do Nordeste, aproveitou-se disso para se encher de beleza e encantamento, emocionar leitores e conquistar corações. Embora seus criadores sejam paraibanos é na cidade do Recife que ela ganha corpo e começa a ser divulgada nas primeiras publicações de seu criador e João Martins de Ataíde, o maior editor de sua época.

Atravessou os anos com maestria e beleza, pariu novos poetas e buscando terras longínquas chegou ao sul e sudeste do país. Em São Paulo, devido à grande quantidade de migrantes nordestinos, fincou raízes e conseguiu a custa de muita luta dos poetas, que antecederam os que hoje formam esse grupo, que ora se reúne, para se congratular e festejar com as pessoas que admiram e consomem esta arte. Entre os desbravadores na divulgação do cordel na Paulicéia jamais poderíamos deixar de citar Antônio Teodoro dos Santos, que imprimiu não só folhetos de cordel, mas uma marca indelével para esta literatura no Brasil. E numa época mais recente Franklin Maxado que deu sua contribuição para o conhecimento dessa arte nessa imensa metrópole.

Quiseram os agoureiros levá-la ao ostracismo, mas a luz que nasce para brilhar nem mesmo um cataclismo conseguirá apagá-la, por isso o cordel que nunca esteve nas cinzas, continuou forte e resistindo aos ataques injustos e pechas que muitos pseudos-estudiosos quiseram enquadrá-lo.

Com a presença marcante de diversos poetas que faziam um trabalho independente na paulicéia, surgiu a necessidade de se reunirem em torno dessa arte que é mais forte do que o tempo e os seus próprios autores, visto que atravessou todos os movimentos literários brasileiros, que deixaram poucos rastros de existência ou apenas páginas hoje empoeiradas pelo tempo.

Aos poucos foi sendo gestada no ideário dos poetas a possibilidade de se reunirem em torno um denominador comum, o cordel ainda que todos fizessem trabalhos independentes. A poesia que muitas vezes surge no solitário dos poetas quer ver solidária com a sociedade, ou seja, pede incessantemente que seja levada aos ouvidos de todos os que são ávidos por lhe escutar.

Os cordelistas com a frequência antenada, em quem os escolheu para dá vida e colocá-la a serviço do mundo, naturalmente começaram a falar na necessidade de se formar um grupo mais articulado em torno do cordel, que os escolheu para serem seus divulgadores na cidade de São Paulo e no mundo.

Em agosto de 2008 foi lançada em uma edição especial, no teatro Tuca – PUC - SP a revista Cultura Crítica falando somente de cordel, e nessa oportunidade boa parte dos bardos puderam se apresentar e sentir que estava na hora de uma ação mais arrojada em prol dessa arte.

A maioria dos cordelistas já vinha sendo editados pela Editora Luzeiro, casa publicadora de maior atividade no ramo cordeliano e nesse ínterim também surgia a coleção clássicos em cordel da Nova Alexandria. Nos dias 7 e 8 de novembro de 2008 era realizado em Guarulhos o Primeiro Salão do Cordel, evento de grande êxito com ampla divulgação na mídia, foi mais um momento de fortalecimento e de engrossar o caldo da certeza que era necessário criar algo mais substancial.

Já se realizava muitos eventos em grupos. Por exemplo, dois poetas receberam o título de cidadão São Bernardense e Paulistano e a maioria dos seus confrades foram prestigiá-los, mesmo que não conhecesse o homenageado, mas como quem mandava um recado: “eu estou aqui nesse momento importante para você, mas muito mais para o cordel que lhe concede o título que ora recebe.”

A presença e a vontade de caminhar juntos era visível mesmo que cada um tivesse a sua trajetória solo por assim dizer. E aqui, acolá surgia a manchete: “grupo de cordel se apresenta” ou “poetas cordelistas se juntam em evento” e diante dessas chamadas genéricas aparecia também à necessidade de um nome que a princípio foi sugerido CABROEIRA DO CORDEL, denominação que pareceu não soar bem aos ouvidos sensíveis a melodia das palavras.

A gestação continuava, e a espera de um lançamento também. Um confrade nosso veio da Bahia lançar um cordel sobre o carnaval e mais uma vez o grupo estava firme como uma rocha e clamando o nascimento do filho que o representasse. A partir desse evento ocorrido em fevereiro de 2009 começou se articular um grupo de sete poetas, dando duas interpretações ao fato a saber: conta de mentiroso e um número perfeito nas sagradas escrituras.

Não por vontade do grupo, mas os sete que se reuniram e traçaram as metas da Caravana do Cordel são todos nordestinos de estados diferentes, exceto dois. Peço a gentileza que após mencionado o nome, este fique de pé: Pedro Monteiro é do Piauí e tem dois cordéis publicados, Chicó o Menino das Cem Mentiras e João Grilo um Presepeiro no Palácio, Costa Senna é cearense e de suas publicações lembramos A Maldita Ilusão e Ou dá ou Desce. Nando Poeta vem do Rio Grande do Norte e entre suas obras citamos Mulheres em Luta e A Turbulência Econômica. Cacá Lopes é pernambucano, já lançou O Matuto Zé Ruela e a Invasão do Estrangeirismo. João Gomes de Sá é alagoano e publicou A Briga de Zé Valente com Leide Catapora e O Corcunda de Notre-Dame. Marco Haurélio é baiano e entre outras obras lançou A Megera Domada e O Herói da Montanha Negra e Varneci Nascimento nasceu na Bahia e já publicou O Massacre de Canudos e Memórias Póstumas de Brás Cubas.

A Caravana do Cordel nasce para agregar o maior número possível de homens e mulheres que amam o cordel e por isso, foram se achegando e engrossando o feixe: Aderaldo Luciano, Cícero Pedro de Assis, Josué Gonçalves, Evânio Teles, Moreira de Acopiara, Benedita Delazari, Cleusa Santo, Assis Coimbra, Aldy Carvalho, Eufra Modesto, Jocélio Amaro, Jackson Ricarte, Luiz Wilson e no entender do grupo quem se identificar com o cordel é também parte integrante dessa Caravana. Nesse ajuntamento não poderia prevalecer outra coisa, senão a poesia, fim precípuo de sua criação.

De fevereiro até sua apresentação oficial passaram-se quatro meses, pois o grupo só seria lançado formalmente no dia 04 de julho de 2009 trazendo a lume três novos cordéis: O Cordel do Trava Língua, de Cacá Lopes, Lampião e seu Escudo Invisível, de Costa Senna, e Delicadezas do Mundo, de Fábio Freire.

O espaço escolhido e encontrado não poderia ser melhor, no Centro da cidade numa rua super conhecida e de grandes manifestações culturais, intitulado de CINE CLUBE, RUA AUGUSTA – 1239. Nesse local a Caravana do Cordel se reuniu mensalmente por cerca de 6 a 7 meses nos primeiros sábados de cada um.

Aos poucos foi conquistando espaço e respeito. Em alguns encontros o Cine Clube ficou pequeno para abrigar tanta gente. O trabalho feito pelos poetas em Escolas e universidade, a inserção de alguns outros no meio social e uma rede de amigos virtuais engajados levaram a Caravana conseguir atrair centenas de pessoas à Rua Augusta para ver o desfile da poesia cordeliana, regada com música, vinho e rapadura, por entre um público cativante.

Do ano 2008 para cá certamente a Caravana do Cordel ou parte de seus membros já fizeram mais de duas centenas de apresentações enaltecendo sempre a importância e o valor do cordel, sua maior razão de existir.

Nesses dois anos contados a partir dos eventos iniciados no ano de 2008, foram realizadas homenagens, palestras, seminários, shows, enfim tudo que foi possível e honroso para colocar o cordel no pedestal que sempre mereceu estar.

Depois de certo tempo na Augusta, a Caravana viu que sua finalidade era maior do que ficar apenas em uma rua esperando que o povo fosse ao seu encontro, resolveu que chegara a hora de fazer as malas, ir aos bairros, periferias, colégios, cidades, enfim onde tivesse um espaço clamando por poesia e se tornou um movimento itinerante. Foi ao encontro das pessoas, conquistou novos espaços, não só físicos e geográficos, mas também no coração das crianças, jovens e adultos.

Foi a outras cidades e estados levando o cordel a exemplo de: Pouso Alegre e Uberlândia – MG; Sorocaba, São Bernardo do Campo, Diadema, Várzia Paulista; Ribeirão Pires, Mauá, Guarulhos, enfim a tantos outros lugares.

É por estas e tantas outras razões que hoje nos reunimos com você para comemorarmos a existência desse grupo de sucesso, que humildemente e com coragem vem mostrando que literatura e cultura não têm fronteira, que inexiste o popular e o erudito, e sim a cultura que não tem credo, raça, camada social e cor. O cordel é assim, não foi você que escolheu está aqui hoje, mas o cordel escolheu você. São Paulo tem milhões de pessoas, mas é você que está aqui e sua presença é indescritível.

Em nome do cordel que é maior do que qualquer poeta aqui presente, sinta-se abraçado e abraçada, aproveite este encontro para que transformemos o mundo em “um mundo de cordel para todo o mundo” e que o cordel esteja sempre presente em sua vida.” Muito obrigado!

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