quarta-feira, 7 de setembro de 2011

IMPRESSÕES III SOBRE O I FÓRUM DE SÃO PAULO


Se alguém perguntar a um poeta quem é o pai do cordel, a resposta é taxativa: Leandro Gomes de Barros. Se a conversa parar por aí você fica convencido, mas se insistir onde nasceu essa literatura, o poeta se trai dizendo que foi em Portugal por volta do século XVII. Mas como pode ter sido lá se Leandro não é desse tempo e nunca esteve em Portugal. Essas questões sempre me intrigaram, afinal Leandro é um paraibano e não um europeu, daí como foi conceber o cordel além mar?
Quando doutor Aderaldo Luciano, defendeu em sua tese que só herdamos dos portugueses a palavra cordel, e começou a expor seu pensamento, alguns poetas discordaram dele, que continuou expondo sua tese baseado em pesquisas. No fórum voltou a tocar nesse assunto, afirmando que o cordel produzindo em qualquer outra parte do mundo é cordel apenas no formato do folheto, mas não na forma de escrever. A professora doutora Jerusa o interrompeu e disse que era exatamente isso, citado como exemplo os cordéis que ela viu na Índia.
Ou seja, nós herdamos esse nome por causa do suporte, mas não pela poesia. No fórum confirmou-se aquilo que tantas vezes vi o poeta João Gomes de Sá afirmar nas palestras que fizemos, que em Portugal é chamado cordel tudo que se pendura em um barbante, ou seja uma receita de bolo, piada, conto, jograis etc.
Houve uma simbiose na fala da professora Jerusa com a do Aderaldo. Não sei porque tantos poetas e pesquisadores insistem que é o nosso cordel é o mesmo daquele produzido na Europa. Alguns vão mais longe dizendo que o cordel estava presente na idade média? Quem faz tal afirmação, deveria ter a coerência intelectual de assumir que dessa forma, Leandro não é o pioneiro do cordel. Todavia alguns fazem certas afirmações para agradar e não discordar do que muitas vezes, está posto, erroneamente, e assim se confirma um adágio que “uma mentira repetida várias vezes se torna uma verdade”. Foi o que fizeram com o cordel dizendo que veio de Portugal.
Por isso temos de tirar o chapéu e agradecer a esses dois estudiosos doutora Jerusa e doutor Aderaldo pela coragem que tiveram de expor aquilo que pesquisaram indo de encontro as verdades estabelecidas equivocadamente.

Um comentário:

DDD disse...

Não é fácil.
Mudar antigas formulações teóricas.
Acho que a persistência apoiada em uma investigação histórica pode sim trazer para as nossas mentes, as explicações necessárias que recontem a história mais próxima a uma realidade.
Esse esforço em resgatar a história do cordel apoiada em uma pesquisa mais apurada nos ajudará a reconstituir o papel desse gênero em nossa poesia.